sexta-feira, 9 de novembro de 2012

Análise 4: Crônica "Atitude Suspeita"

O texto “Atitude suspeita”, de Luis Fernando Veríssimo, aborda questões concernentes ao uso da semântica e principalmente da pragmática, como nos indicam os inúmeros exemplos encontrados no decorrer deste. Logo nas primeiras frases da crônica o autor já aponta a problemática do termo “atitude suspeita”: “É uma frase cheia de significados”, ele diz. Com isso, Veríssimo inicia sua discussão acerca de como o termo é utilizado em várias situações de prisão que nem sempre têm a concordância dos envolvidos de que a atitude em questão teria sido suspeita. Ou seja, o termo seria vago e a veracidade da acusação que ele faz será comprovada com o contexto e o entendimento de mundo dos interlocutores.

No primeiro parágrafo o autor utiliza o próprio título em uma frase de sentido ambíguo: “Sempre me intriga a notícia de que alguém foi preso em atitude suspeita”. Ressalta- se por meio deste caso analisado o que vem a ser a ideia de “atitude suspeita”. Semanticamente a frase tem um significado cujo teor não resta dúvida: há algo que não está claro. Em contrapartida, quando discutido o âmbito pragmático, observa-se uma situação subtendida gerada a partir de um pressuposto. No decorrer da leitura, consegue- se abranger o conteúdo implícito dentro da crônica onde os policiais notam a “atitude suspeita” do rapaz no ponto de ônibus, conotando, para aqueles, uma ameaça à coletividade. O presente enunciado está aludido na seguinte frase: “Diz que não estava fazendo nada e protestou contra a prisão”. De acordo com a linguagem em uso, dentro da pragmática, corrobora- se um ato ilocucionário, a ação é reflexiva pelo personagem (pag.08).

Discutindo o aspecto semântico no trecho a seguir: “É a segunda vez que o senhor se declara inocente, o que é muito suspeito. Se é mesmo inocente, por que insistir tanto que é?” Aqui se chega à conclusão também de significados opostos, chamados de antíteses, dentro do critério de figuras de linguagem; todavia, quando inserido pragmaticamente deixa em aberto análises subentendidas, pressupostas. O que depreende- se a inocência do rapaz ser inquestionável à acusação do delegado (... ”por que insistir tanto que é?”), ainda que este crie uma situação, forçando- o a se declarar culpado.

A ênfase com que é proferida a expressão “atitude suspeita” em todo o texto diversifica-se compreensões muito mais de cunho pragmático, pois dependem de fatores extralinguísticos, implícitos na maioria dos casos e não necessariamente de elementos linguísticos como vem a ser a semântica.

Nos parágrafos seguintes, o delegado faz com que o rapaz torne-se culpado, até porque na sequência este acaba “assumindo” a culpa pelo ato que não foi de fato cometido. Há um conflito de informações entre os interactantes. Todo o contexto se altera devido à atitude tomada pelo rapaz acusado que passa a indagar os agentes policiais. Essa confusão não é bem vista pelo delegado, passa a repudiar seus comandados, tomando assim uma “atitude suspeita”, soltando o cidadão e sendo alvo de críticas por parte de seus comandados.

Pelo elucidado neste contexto acima, chega-se a seguinte conclusão: É de salutar importância o uso da pragmática e da semântica, pois por mais que hajam significados implícitos e, algumas vezes explícitos, não se consegue identificar qual o uso real da situação em questão, pois estes têm implicaturas como questionamentos em aberto por parte do leitor.

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