domingo, 12 de maio de 2013

À Morte

Morte, minha Senhora Dona Morte,
Tão bom que deve ser o teu abraço!
Lânguido e doce, como um doce laço
E, como uma raiz, sereno e forte.

Não há mal que não sare ou não conforte
Tua mão que nos guia passo a passo,
Em ti, dentro de ti, no teu regaço
Não há triste destino nem má sorte.

Dona Morte dos dedos de veludo,
Fecha-me os olhos que já viram tudo!
Prende-me as asas que voaram tanto!

Vim da Moirama, sou filha de rei,
Má fada me encantou e aqui fiquei
À tua espera... quebra-me o encanto!

ESPANCA, Florbela. Sonetos. 14. ed. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2006.


Um comentário:

  1. "Em ti, dentro de ti, no teu regaço"... Verso significativo pois o Eu- lírico não está preocupado com o seu fim : Será um prêmio...Nos dizeres da Florbela "tão bom que deve ser o teu abraço". A morte é um tema que norteia não só este poema,outros inclusive. Há uma correlação muito grande com a questão do "buscar" um fim para as quetões complexas da vida...

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