Se a frase “O tio de Felipe deixou-nos ontem” estiver descontextualizada,
podemos dizer que ela exprime um efeito polissêmico e é ambígua, pois
dependendo do leitor ou ouvinte, esta frase poderá ser interpretada de várias
maneiras. “Deixou-nos” tem a mesma forma tônica, mas sentidos diferentes. Por
exemplo: pode ter deixado algo para alguém; ter deixado alguém em algum lugar;
pode ter abandonado a família ou alguém; ou até mesmo ter falecido.
Podemos dizer que este exemplo contém
proposição, pois segundo Fátima Oliveira (pag. 336) esta é o significado de uma
frase declarativa que descreve uma determinada situação. De acordo com ela, do
ponto de vista da Semântica, uma situação envolve tipicamente entidades,
mencionadas através de expressões, que conservam entre si diferentes tipos de
relações explicitadas pelo predicado.
Nesta frase há um verbo transitivo
indireto que pede complemento para a compreensão fora do contexto e faz uso da
denotação, ou seja, a descrição definidora “o tio de Felipe” para referir o
sujeito.
Esta sentença é informativa e o seu
significado possui tanto um sentido como uma referência. Também nesse exemplo podemos
perceber um impasse na representação da frase.
Com relação a pressupostos e subentendidos,
pressupõe-se que o tio de Felipe esteve conosco; além disso, dependendo da
interpretação do leitor ou ouvinte, pode subentender-se que ele faleceu, ou “deixou
algo para nós” ou “nos deixou em algum lugar”.
Seguindo Geoffrey Leech (1983), a partir
do “princípio de delicadeza”, encontrado nas trocas conversacionais, podemos
entender que neste exemplo, se produzido como morte do tio de Felipe, o locutor
poderá fazer uso da delicadeza no ato locucionário, e por consequência implicar
a utilização de eufemismo.
Este princípio é utilizado para
minimizar os aspectos desagradáveis da ação realizada pelo locutor, considerado
assim princípio de comportamento social, fazendo parte da competência
comunicativa do falante, na qual ele tem a noção que determinados contextos
situacionais exigem de sua parte um comportamento linguístico e social mais
formal.
Podemos entender deste exemplo, por fim,
o objeto indireto como dêitico, pois é um elemento que aponta a ação verbal do
enunciado.
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